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Entrevista. Saúde Mental e Emocional

O Clube de Jornalismo recebeu o desafio de entrevistar a Dra. Francisca Silva, psicóloga do Agrupamento de Escolas de Castelo de Paiva sobre a saúde mental e emocional dos alunos do agrupamento, a fim de percebermos melhor os desafios e preocupações que os adolescentes e jovens enfrentam hoje. A entrevista foi proposta para que pudéssemos ter uma compreensão mais profunda das questões que afetam a saúde mental e emocional dos estudantes, como o stress escolar, a pressão social, a ansiedade, entre outros. Esta entrevista é uma oportunidade para sensibilizar a co



munidade educativa sobre a importância da saúde mental, bem como para explorar formas de apoio e recursos disponíveis para os estudantes lidarem com esses desafios.

Olá, Dra. Francisca. Obrigada por nos conceder esta entrevista. Para começar, poderia falar-nos um pouco sobre o seu papel como psicóloga no Agrupamento de Escolas de Castelo de Paiva e como surgiu o seu interesse pela área da saúde mental e emocional?

Bom dia. Considero que os/as psicólogos/as têm uma função primordial nas escolas. Desempenham diversas funções, sendo que as que nos ocupam mais tempo do nosso dia são os acompanhamentos psicológicos e psicopedagógicos, as avaliações psicológicas e a orientação vocacional para os alunos do 9º ano. Para além disso, temos também alguns projetos e programas que desenvolvemos neste contexto, assim como, ações de sensibilização. Acresce ainda o facto de muitas vezes sermos chamadas para realizar intervenção em crise ou para alguma consultoria a professores e/ou encarregados de educação.

O meu interesse pela área da saúde mental surgiu da minha vertente e gosto pela área social e pela possibilidade de ajudar outras pessoas a ultrapassar algumas dificuldades e/ou algumas dúvidas.

No contexto escolar, como é que a saúde mental e emocional dos alunos se reflete no seu desempenho académico e nas suas relações interpessoais?

O desenvolvimento do/a aluno/a decorre de forma integral sendo impossível dissociar algum dos contextos da sua vida. Ou seja, quando a sua saúde mental e/ou emocional está comprometida, tudo o resto fica também comprometido, nomeadamente o seu desempenho académico e as suas relações interpessoais. Desta forma, quando o/a aluno/a apresenta algum desequilíbrio, vê também diminuída a sua capacidade de manter a atenção, o seu raciocínio fica comprometido e as suas capacidades de socialização ficam reduzidas, pois a sua capacidade de empatia também se encontra debilitada.

Quais são os principais desafios que os estudantes enfrentam em termos de saúde mental nos dias de hoje?

Atualmente os/as alunos/as enfrentam um número variado de desafios que lhes podem causar bastante sofrimento, se não houver um acompanhamento parental e/ou profissional.

O primeiro fator a referir são as redes sociais que lhes colocam imensa pressão, quer em termos pessoais, quer em termos académicos. Ou seja, caso não sejam acompanhados, os jovens vão estar constantemente a comparar-se e vão acreditar que as suas vidas são sempre muito piores do que o que vêm nas redes sociais. O que eles não percebem é que naquelas plataformas, cada um mostra aquilo que quer mostrar, mesmo que não seja real. Para além disso, o mercado profissional está cada vez mais competitivo, o que lhes pode causar ansiedade e pressão para serem os melhores.

O segundo fator a referir, considero que seja o dos contextos familiares disfuncionais. Com um número crescente de divórcios, muitas vezes os pais não têm capacidades de gestão emocional para não envolver os filhos em problemas dos adultos, causando desequilibro aos mesmos. Além disso, com o aumento dos custos de vida, muitos pais têm mais do que um trabalho, ou trabalham mais horas, o que faz com que estejam menos tempo em casa com os seus filhos.

Por fim, estes dois fatores conjugados levam a que a maioria dos jovens assistam ou leiam notícias e publicações sem uma explicação e/ou um enquadramento. Aceitam tudo, sem se questionarem sobre o que leem, porque também na escola não há espaço para ensinar os alunos a pensar e a argumentar, pois têm os seus programas escolares assoberbados.

Que estratégias ou programas o Agrupamento de Escolas de Castelo de Paiva implementa para promover a saúde mental e emocional dos alunos?

Ao longo do ano letivo a equipa do SPO (Serviço de Psicologia e Orientação) vai implementando diversos programas e ações, tentando atuar sempre na prevenção e não na remediação. Assim, já foi implementado um Programa Sócio Emocional no 1º ciclo, Programa de Avaliação de Competências, são também dinamizadas algumas sessões de sensibilização acerca de temáticas preocupantes no contexto escolar e, por fim, é feito um acompanhamento psicológico aos alunos que apresentam maiores dificuldades ou desequilíbrios de diversos níveis.

Considera que existe uma maior consciencialização e abertura para discutir questões relacionadas com a saúde mental nas escolas atualmente em comparação com anos anteriores?

Sim, felizmente já se denota alguma evolução neste sentido. Todo o trabalho que foi feito ao longo dos anos aqui no agrupamento e na sociedade em geral levou a uma maior consciencialização da importância da saúde mental. As redes sociais e a comunicação social foram uma grande ajuda para esta discussão pública. Para além disso, diversas figuras públicas dão o seu testemunho acerca das dificuldades que ultrapassam e a necessidade do pedido de ajuda de um profissional, o que ajuda a desconstruir alguns pré-conceitos.

Como é que os pais e encarregados de educação podem apoiar os seus filhos no desenvolvimento de uma boa saúde mental e emocional?

Considero que para os encarregados de educação e/ou pais conseguirem dar esse apoio e suporte aos seus filhos, devem eles próprios cuidar de si. Quer seja através de medidas preventivas como a prática de exercício físico, uma boa alimentação, atividades de relaxamento e meditação, leitura e escrita, quer seja, através do apoio psicológico sempre que sentirem necessidade.

Desta forma, já serão capazes de dar um maior acompanhamento aos seus filhos, sendo um suporte para os mesmos, em situações de maior stresse ou frustração. E com esta proximidade, sempre que houver situações de alteração de comportamento, serão mais facilmente identificadas para que consigam solicitar o apoio necessário.

E no que diz respeito aos professores e restante equipa escolar, qual é o papel deles na promoção da saúde mental dos alunos?

A restante comunidade escolar tem um papel de extrema importância, uma vez que a escola é o local onde os alunos passam grande parte do seu dia. Assim, têm a responsabilidade de sinalizar e encaminhar sempre que denotem alguma mudança de comportamento. Mas isto só será possível se eles próprios se instruírem através de formações com pessoas da área da saúde mental.

Com o aumento das pressões sociais e académicas, qual é a importância de incluir o tema da saúde mental nos currículos escolares?

Como já foi referido, a saúde mental é a base de todo o sucesso do aluno. Assim, considero que deverá ter tanta ou mais importância que o restante currículo escolar. Pois só através desta abordagem conseguimos fornecer algumas ferramentas aos alunos que são úteis para lidar com a frustração em caso de insucesso, por exemplo. Na impossibilidade de fazer uma intervenção individualizada com todos os alunos, esta intervenção em grupo torna-se fulcral para o seu equilíbrio mental e emocional, devendo começar logo no pré-escolar através de ações preventivas.

No seu trabalho como psicóloga escolar, já identificou alguma abordagem ou programa específico que tenha tido resultados particularmente positivos na promoção da saúde mental dos alunos?

Observo que havendo a possibilidade, a intervenção individualizada tem melhores resultados uma vez que todos nós somos diferentes. Ou seja, na psicologia não é possível aplicarmos uma receita e funcionar de igual forma para todos. Assim, é necessário serem utilizadas diversas abordagens e instrumentos para as mais variadas pessoas.

Quais são os sinais de alerta que os professores e os próprios colegas devem estar atentos, que possam indicar problemas de saúde mental entre os estudantes?

Existem vários sinais de alerta a que podem estar atentos, como:

- Alterações de comportamento (extroversão ou introversão excessiva e repentina);

- Descida do rendimento escolar de forma abrupta e repentina (sem uma explicação evidente);

- Mudanças no aspeto físico repentinas (emagrecer ou engordar sem explicação médica).

Para finalizar, que conselhos ou palavras de encorajamento gostaria de deixar aos estudantes, pais, professores e a todos aqueles que se preocupam com a saúde mental e emocional dos jovens?

Os psicólogos não costumam dar conselhos, por isso as palavras de encorajamento que gostaria de deixar à nossa comunidade escolar é que quando identificarem algum sinal de mau estar neles próprios ou nos outros, que peçam ajuda e não relativizem os sintomas. Porque se quando temos dores físicas procuramos o médico, as dores psicológicas são normais e mais comuns do que achamos e, por isso, devemos procurar ajuda.

Por fim, é importante que saibam que há muita gente a fazer terapia e que não temos de ter vergonha por isso, é normal e maravilhosa a descoberta que conseguimos fazer acerca de nós próprios.

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